Dependência a jogos eletrônicos uma realidade crescente

            Em um recente estudo publicado no Brasil investigando quase 3 mil famílias, verificou-se que quase 90% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de idade estão conectados a internet. Nesta pesquisa, evidenciou-se o aumento na realização de atividades multimídia por estas crianças e adolescentes, com 83% da população investigada reportando assistir a vídeos, programas, filmes e séries online, 75% se mostrando frequentemente conectada e  55% jogando videogames conectados com outros jogadores.  O uso excessivo é demonstrado por 21% das crianças e adolescentes que referem deixar de comer ou dormir por causa da Internet.

            Para  muitas crianças e adolescentes, os jogos eletrônicos começam como distração e diversão passam a se tornar um problema quando os adolescentes se trancam em seus quartos, perdendo a noção da hora do dia ou da noite. Perdem aulas e, quando confrontados, se recusam a ir à escola ou participar nas tarefas rotineiras e habituais (mesmo comer, tomar banho, dormir) se isolando da família, para ficar jogando, sem qualquer controle ou limite.

            Por isso, desde 2018 a Organização mundial de saúde publicou na classificação internacional de doenças CID-11 os critérios diagnósticos para dependência em jogos eletrônicos:

  1. Falta de controle sobre o jogo: início, duração, frequência, intensidade, término, contexto.
  2. Aumento da prioridade dada aos jogos sobre as outras atividades diárias com a família, com a escola, com o trabalho.
  3. Continuação ou aumento do uso dos jogos, apesar das consequências negativas.
  4. Período de 12 meses, apesar desta duração poder ser encurtada se todos os critérios acima estiverem presentes e os sintomas forem severos e compatíveis para o diagnóstico.

            Essa dependência pode estar associada a outras comorbidades, como transtornos  comportamentais, com transtornos de humor (depressão e transtorno do humor bipolar), transtornos da ansiedade (principalmente ansiedade social) e transtornos do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

            Assim, recomenda-se:

  • Estabelecer regras e horários para equilibrar o uso dos jogos com as outras atividades da rotina e dos estudos, de acordo com a faixa etária, e com o limite máximo de 2 horas diárias;
  • Verificar sempre na Classificação Indicativa quais jogos e seus conteúdos são mais apropriados para cada faixa etária e quais os limites de idade, avaliando-se, ainda, se o jogo está adequado (ou não) para a maturação mental da criança ou do adolescente neste momento do uso;
  • Avaliar os impactos dos jogos sobre os hábitos de saúde, como sono, alimentação, comportamentos, estudos, e nas rotinas da criança e do adolescente e de sua família;

            Sempre que os pais notarem algum problema, procurar ajuda especializada.

Fonte: Manual de Orientação do Grupo de Trabalho em Saúde na Era Digital (Sociedade Brasileira de Pediatria).

Por: Dr. Jaime Lin – Neuropediatra

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