Sobre sexualidade na terceira idade

“Como vou dormir? Foram 60 anos na mesma cama”
Soluços….
“Quem vai trazer meus chinelos? Vai me preparar o meu pão com mistura?”
Silêncio.
Soluço.
A esposa havia falecido há 15 dias.
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Ouvi toda história, foi impossível não pensar por alguns segundos no meu marido, em como seria perdê-lo, enchi os olhos de lágrimas. Voltei pro sofrimento do meu paciente. Não tinha muito o que eu falar, só ouvir… Diagnóstico: DOR DE AMOR
Tratamento inicial: TEMPO
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Meses depois vou buscá-lo na recepção, já sofrendo por antecipação.
Pra minha total surpresa Sr José era o homem mais feliz do mundo, me apresentou Madalena, como se exibe uma jóia:
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– Olha Dra, que lindos os olhos da minha Mada. .
Oi? Como assim? Cadê aquele viúvo injustiçado pela vida? Foram meus primeiros pensamentos.
Confesso, me senti traída! Traída!!! Claro, por segundo pensei no meu marido, sorte que ele não estava perto. Estás rindo?! Estou falando muito sério!!! .
-Oi Mada! Olhos lindos mesmo! – eu disse tentando aceitar a traição. Louca de ciumenta.
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Começaram a me contar sua recente história, como haviam se conhecido, com direito a coração acelerado e mãos suadas… Ainda tive que ouvir a frase:
-Ainda não Dra, só depois de casada!
Os olhos azuis de Mada brilhavam, os dele conseguiram ficar mais lindo do que os dela.
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No fim entendi que a esposa havia morrido, mas o AMOR estava vivo nele.
Sequela: SAUDADE
Cura: CONTINUAR AMANDO
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A cama está cheia, chinelo do lado, café da manhã, pão com mistura, olhos azuis, o mesmo amor, esposas diferentes, a vida continua pra quem está vivo.
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Há 1 mês Mada ligou pra nos contar que ela e José casaram. Quem disse que 82 anos é tarde pra CONTINUAR O AMOR?
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#colecionadoradevidas #colecionadoradehistorias #deixandominhamarca
#contacomigo

Por: Dra. Thatiana Dal Toe – Geriatra

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